Narciso ou um poema para Zaratustra
ele ocupava a vida
que agora é minha
furtava a cena
ator que foi
ele ocupava o sonho
que agora é meu
furtava a crença
de que nada era meu
partilha não indica
dizer
quem deu ou não deu
ele compunha o verso
que sempre escondeu
então o verso ficava
guardado a sete chaves
segredo de Zeus
foi assim que ele
subiu a montanha
quebrou as mãos
cortou a pele
raspou os pelos
calou a voz
secou
tato
olfato
paladar
audição
não se ouvia mais falar
foi assim que ele vivo morreu
embora as lágrimas
essas
insistiam em brotar
mas o espelho quebrara
e olhar marejado embaçava
o caminhar
várias vezes ele foi visto
a perambular
disfarçado em sorrisos
e bem-estar
pois se o vissem em pedaços
ele sabia
não haveria mais chance
dele se achar
o caminho de volta era trilha
difícil de andar
ele ocupava a magia
que agora é minha
ele furtou a presença
presentes
mas me devolveu sem saber os dentes
para com garra lutar
sem intenção de ganhar
pois o bem meu mais sagrado
intocável está
cada um purga
o tamanho da entrega
e quando menos espera
volta a ser
puro clarão de sol ou luar.
In: Poemas para um menino grande
In: Poemas para um menino grande
#moniquefranco, com o sol e a lua quase cheia a chamar
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