Jornal do Brasil - 19 de janeiro de 2017 - Universidade do Estado do Rio de Janeiro |
reunamos tudo
a saúde dos filhos
a orgia do sexo
a memória dos nossos pais
aqueles anos da infância
lembremos tudo
o sinal de cruz da mãe
o primeiro beijo
o primeiro poema num livro
aquele luar
o latido do cão
o ronronar do gato
o sabiá respondendo aos passarinhos
o arrepio das águas frias do rio
aquele mergulho no mar
exaltemos tudo
o brilho das estrelas
a muda que brota
a pele que enruga sem medo
a esperança de um mundo melhor
de tudo faremos um todo
faremos um bolo
e em festa íntima
particular
teremos assim
fatias de um alimento próprio
que ninguém vai nos roubar
os tiranos
os falsos fraternos
os indignos
os covardes
sim
para viver é preciso coragem
e o poder é o gozo dos fracos
para nós
farsantes em boicotes
mortais errantes
cabe
conferir potência
à simplicidade da vida
narrá-la em verso
repô-la como vento
entrando em cada fresta
de nossa existência diária
não digo que não haja tristeza
não digo que não haja rancor
mas há que se perceber que a moral
divide o mundo entre o bem e o mal
e o pêndulo oscila entre as virtudes
que nos escapam sem cessar
de tudo nos fizeram para esquecer
de tudo nos fizeram para não ler
desnudemos tudo
o rei está nu
vestir a desesperança é engolir a estratégia dos podres
a paralisia é sinal de doença
e o remédio mata o prazer
desnudemos tudo
do real à aparência
ocupemos as cidades
as praças
as escolas
é a hora
da revolução começar
batem os sinos
urram os poetas
soam os acordes
assim falou Zaratustra
revoltar é a arte
de não aceitar.
#moniquefranco, 22 de janeiro de 2017.
#somostudosuerj