Poemas




Prendices ou sobre os lugares perfeitos

tem gente
que é ente
e sabe das coisas
escolhe o lugar
de ficar
se encaixa perfeito
por que não dar jeito
e se acomodar
fazer do insólito
morada
e namorar
de frente pras águas
do rio ou do mar
levantar com o ar
o importante é deixar
correr
o próprio encontrar.


Prenda no meu banheiro, janeiro de 2015
#moniquefranco
In: Poemas para um menino grande
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Construções


é poder ficar a sós
minhas dúvidas
tantos nós
e poder ficar a sós
recordar-me em ti
não mais fugir
e poder dormir assim
ser sonho sem iludir
ser amor sem possuir
ainda que tanta vezes partir

é poder ficar a sós
contemplar e ver
muitos planos
alguns florescer
como nas aquarelas que águo
ainda que das querelas de ti
e poder gozar no excesso
no pleno processo
da potente solidão

é poder ficar a sós
no cotidiano poder ser
nós
no cotidiano poder ver
cor
e poder ser companhia
e poder sentir o odor
contruir novas passagens
estadias conquistar
da liberdade se melar
do leite do amor se fartar
é poder rabiscar escritos
resumir com palavras gritos
e sumir noutros castelos
arquitetar construções
rever família
velhas, novas, tantas,
tradições
repetições
privações
trabalho árduo que rui no medo
da possibilidade de só estar
quem sabe amar
já que a mulher em si tateia
já que o homem pôde enfim se olhar
já que um dia é certo
encontrar
olhos
fitar
mesmos textos decifrar
diferenças
respeitar
desavenças
algumas
despertar

é poder ficar a sós
saber cruzar
trajetórias e um altar
e poder não se ocultar
na vergonha ou na diferença
nas couraças ou nas conquistas
e poder ficar a sós
é poder usar o verbo
é poder imperfeição
é poder mutualmente
ter admiração
sustentar a construção
e poder jogar no chão
a falsa moral
o falso não
é a velha sedução
é blefe
repetição

é poder ficar a sós
e poder largar de mão
sem negar o coração
não se iludir com senão
não reduzir
limitação
e viajar nas letras, cores, formas sons
é poder ficar a sós
e poder amar e dizer sim
agora não, eu digo não.

#moniquefranco
In: Poemas para um menino grande

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Exagero ou sobre um certo caderninho de rascunhos

eu que nunca escrevo à caneta
nunca durmo no escuro
não como presunto
não falo de boca cheia
logo eu
fui escutar
as vozes
dos anjos
vi
as flores
dos campos
e os clarões do luar
e me pus a bailar
poeta me fiz
e me fiz olhar

logo eu que tanto falava
me pus a calar
mudei os móveis da sala de lugar
cortei curto o cabelo
mas aí já é exagero
é mudança demais
para um certo incerto
caderninho novo de rascunho
propagar
mas o importante será
se
um, dois, cem poemas
com ele riscar.

#moniquefranco,  de caderninho de rascunho
In: Meta-poesia

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Estrangeira ou sobre certas canções

um raio
estrangeira
brejeira
mulher sou

vivo
nas nuvens claras
mergulho fundo no céu
inspiro
letras
acordes e sons
teço
urdiduras
o caminho, o passo e o compasso
e dos poemas brotam histórias
que a memória quis revolver

sonho
nas noites claras
escalo altas montanhas
inspiro
feitos
sabores e aromas
ofereço
alimento
o vinho, a água e o pão
e as panelas cozinham o afeto
que o tempero da vida quis provar

acordo
nos dias claros
salto espumentas ondas
inspiro
prazeres
areia e sal
espero
retraio
o beijo, o abraço, o laço
e aprendo com os felinos
farejo antes de entrar e vou com garras lutar

um raio
estrangeira
brejeira
mulher sou
ligeira ou lenta
o sangue índio percorre
veias e cabelos
e espero antes de buscar
alvo incerto
o certo em mim não tem lugar
imanente e potente
o horizonte  é sempre aberto
por isso vem o meu singelo
jeito do amar

#moniquefranco
In: Poemas para um menino grande

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Me inc-lua ou sempre a lua há de voltar 
a cada ciclo solar

inc-lua


serve nua?

serve crua?

p’ra temperar?

lua aberta

luz sempre certa

abençoada por este indivisível
se dar
invisível carregado de visões
aparições
dragões vêm a noite despertar
o sono certo
traz o fogo
incendeia o objeto
primeiro
fundamento do que não tem mesmo tempo ou lugar
pois esta é a essência do perfume que percorre o ar
viste!
os romanos de outrora
as ruínas estão lá
e in-formam à história
que aos medos de agora
cabe ao vento in-ventar
cabe pois ao fluxo
eternizar
esta sublime memória ninguém
nunca
vai nos tirar.

#moniquefranco, recuperando memórias em noite de luar
In: Poemas para um menino grande

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Bem te ouvi, só sei que nada sei ou ... 
para o meu, nosso, Sócrates

bem te vi
flor de primavera
bem te vi
ouvi
o som que vem da mata
o som de quem ama e enlaça
traça os rumos
vem e abraça

bem te vi
senti
o som que anuncia a chuva
lava a praça
bem te ouvi
entendi
só sei que nada sei
mas é necessário seguir
por aí
se aqui o lugar ainda voa
então entoa
a canção que fiz pra ti
bem
mal
te
me
vi
e assim por onde ouvires
cantar o bem te vi
terás a certeza
o que sabes
não cabe em si
e se da sabedoria tens filia
não saber
é a pura filosofia

bem te vi
flor de primavera
bem te vi
ouvi
o som que vem da mata
o som de quem ama e enlaça
traça os rumos
vem e abraça.

#moniquefranco, ouvindo o som do bem te vi
In: Dedicatórias.

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 Dedicatórias

2014  ou um ode à verdade do ser

meus deuses
não me abandonaram
meus santos estão presentes
na glória que queima e acende
e o ano novo se anuncia potente e quente

passado
o treze deu frutos
futuro quatorze promete
incita insistir no percurso
de amar e lutar pelo que se merece
quatorze
sete mais sete é
por isso mesmo a sorte sorri
o novo não é mais do que
tomar a vida para si
e acreditar no porvir

e se o tom por ventura desafinar
tem o mar a proteger e a banhar
tem São Jorge guerreiro e a Deusa Iemanjá
a reger o verdadeiro e honesto se dar
e que a inveja volte para àqueles
que fazem de suas vidas castigo
moral enrustida no próprio umbigo
e que a usura corrompa os sentidos
dos que para si guardam d’ouros invertidos
nada mais são que pervertidos
mortos-vivos

então deixe que os santos abram os sorrisos
iluminem os caminhos
removam as pedras
empecilhos servem para saber
que temos os deuses ao lado

assim quando vemos a lua
assim quando em nós vem uma estrela brilhar
ou a chuva forte ou fina nos molhar
nada mais é que uma força a abençoar
e Nossa Senhora ali deve estar
mãe de todos a acalentar e zelar

assim agradeça sempre aos divinos
sejam deuses ou aquele que lhe enche de apoio e de carinho
são eles que sabem e mostram os caminhos

quatorze
dois mil
muito tempo
desde que o homem
na narrativa de fé e de verdade fez crença
e da vida fez memória e história
dos que amam e lutam sabendo que a vitória
está nas mãos
nos dedos
está nos cheiros
nos odores
suor de corpos de trançam
dançam
onde há o verdadeiro amor
há sempre esperança

2014 é ano que soma
três mais quatro
sete é
quatorze por dois divide o mesmo sete
subtrair só se for de a si mesmo trair
desistir
enquanto isso multiplicamos o dizer
dois mil e quatorze vezes
vale mais que tudo
da arte do poema sobreviver
sem isso é igual não nascer
seria então melhor morrer
mas enquanto existir a palavra
a vida se faz valer

#moniquefranco, achando o cordão encantado
In: Dedicatórias

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