mais da metade
menos de mim eu sei
mais da metade da idade
do tempo que morrerei
mais da metade do tempo
e há tempos
procuro gostar de mim
aprender com os erros
despertar dos enganos
marcas da vida
rumos sem par
e o lar descoberto
correndo pra cuidar
singelas conquistas
pistas
do que em mim pôde se dar
caso a mim mesma o segredo
possa enfim revelar
mais, mais da metade
filho criado
medo insano sanado
ou pelo menos
posto ao lugar
lugar em que a vida
está a chamar
mais que a metade
quase o dobro
e a velhice começa a rondar
e os olhos percorrem as rugas
e o brilho vai pra outro lugar
e os entes me levam ao tombo
quando me escondo
eles vem desvelar
a frágil menina ainda teima
e se põe a orar
pra um deus rarefeito
posto que em tudo e em todo o lugar
e na mulher dói no peito
a falta do que não pode dar
que passe o tempo de espera
que a espera não seja sem tempo
que venham as dores no corpo
já que as da alma não hão de sanar
podem sim servir de passagem
estreita, escura passa a iluminar
alargar
as ancas
os lances
quem sabe assim eu cresça
antes de morrer
ou ir pra outro lugar
e fica a pergunta que escuto
nos sonhos ou logo ao acordar
será mesmo que crescemos
ou sempre o mesmo
ou sempre a mesma
iremos ficar
carimbo materno, paterno
é o que há
e a cada abandono
a nós mesmos buscamos ocultar
seja sorrindo
seja chorando
mais da metade
e eu aqui cada vez mais criança
me ponho a lançar
mão da sorte
e faço da escrita meu sagrado lugar
moniquefranco, 26 de outubro de 2013, querendo crescer