sábado, 25 de julho de 2015

Sobre os vivos-mortos ou mortos-vivos, muito vivos ou... o cronista como etnógrafo

Fotografia:"On the easel" by Alexei Antonov oil on canvas, 30×40.

Crônicas ficam na alma. Demoram a estacionar no papel em branco. Na tela, em branco. Escapam dos dedos por meio dos poemas... Ah! Quantos poemas não seriam crônicas, doença e cura da alma; um remédio, assim, repentino são os poemas e curam de imediato, o que estava ali, posto em sintoma. No conjunto, ainda que disperso e sempre caótico, o registro que agonia, agoniza. A escritura sempre é limite, da dor ou da alegria, sempre é escape, sempre é re-vista, ponto de vista, fenômeno da hermenêutica não mais centrada num só – sujeito da sujeição, mas como convite da novela da vida. Escritores, escrituras, leitores – formam os universais. Leitores das linguagens, imagéticas, sonoras, sensoriais. Linguagens. Os universais se expandiram ao longo desses vinte e seis séculos de nossa cultura. Trouxeram os outros, além de nós, em nós, nos tiraram da mesmice do eu em si e nos desafiaram a ser no outro. Crescem os universais quando dis-postos em liberdade. E aí nem precisamos do relativo. Ele ali está, posto em presença, em cada um do todo. Dasein? Assim parece nessa manhã de Finados destinada a ouvir, ler e escrever – ver, sentir. Enfim sós! Eu e você. A música tocou por acaso Anthony Philipis, nem tão por acaso assim. E veio a faixa.... quase um Baraka, o som da música, o gosto. Procurei no youtube. Vou postar, pensei. Não tem. Como não tem? No youtube só tem o que já tem? Replicantes constantes à rede? Isso. E nós que os esperávamos fora de nós! Robôs. Que nada. Mas é quando retorna o poema, a crônica, o conto, a novela, o som da música, a pintura da alma e tudo retorna e há que se respirar aliviado. Sim, a arte salva.
Mas o que está em jogo quando a alma toca e materializa algo, pelo menos, forma, disponibiliza objetos – figurações finais, dispositivos finais? O ser? Ou a verdade? Ou a verdade do ser?  O ser de cada coisa em sua tensão compartilhada? O discurso sobre o ser que nada pode ser ou a correção do discurso sobre o ser? Validado. Temos aí alguns bons séculos de pensamento entre os originários, os sofistas e os platônicos. Quanta dúvida, quanta certeza sobre o que se pode ou não dizer sobre isto ou aquilo. Bom, isto não é um cachimbo -  ensinou-nos Foucault.
Passeio por ou entre fragmentos... terão sido, de fato, enunciados? A natureza ama esconder-se. Eu também! A essência e a aparência. O que Dante diria? E sua Divina Comédia? Com Copérnico, começamos nossa espiral descendente? Ela nos levou à cosmologia de acordo com a qual somos habitantes insignificantes de um insignificante grão de poeira num Universo de galáxias giratórias. O grão de areia da praia que vem em nós a cada mergulho e para sempre se instala por entre os pelos. E os universais? Tudo discurso; nenhuma permanência. O poema revela, revela tudo que há em mim. Preciso disso, desse som. Do som da solidão. Há pouco tempo o esti(a)mado amigo escreveu... e se a alma insistir em ficar?/faço dela um par e vamos dançar?/do vento vem a música/do mar o salão/só falta acertar o passo/para nela não tropeçar/alma fica do lado/não me deixa não/vem dançar comigo/a música da solidão.
Sim, a solidão. Sem ela, o poema, o pensamento, as letras, não, não se dão as mãos. É como no gozo, o momento certo, revela o ponto certo que faz ecoar o som, a sensação... do amor. A solidão é isso. Abrir a possibilidade do dar as mãos. O gozo certo.
Os fragmentos voltam então. Nada, nada pode ser compreendido! Que alívio! Radical - Gorgias! Radical - Poiéses, sem métrica! Niilista elevado aos céus! Tanto nos ensinou sobre o não! Vamos dialogar tal qual fez Platão! Não, melhor não, a persuasão não tem estatuto, não tem senão. Cabe procurar a medida. Onde estará a verdade? Qual o lugar do logos depois que a phisis fora cindida. Como se dá o verbo? O fazer? A ação? Ou será a correção?
Crônicas ficam na alma. E se a alma insistir em ficar? ( continua)

#moniquefranco

terça-feira, 21 de julho de 2015

Felizidade ou sobre a honestidade



cheguei tarde
para desejar felizidade
ao mestre das mentes
que produzem as artes
que curam as dores
do existir
faz tempo
muito tempo
que deixei de acreditar em verdades
e preferi escutar os sons
de um tipo específico
de honestidade
aquela de si
então
seu presente
é esse
você sabe
mais que ninguém
passa
passa tempo
passa ano
tempestade, ventania, luz piscando
seu presente
é você se ouvir
como escuta.


#moniquefranco, 21 de julho de 2015, muitos beijos, feliz aniversário poeta cantador, feliz ano novo, aqui neste Rio, vc tem pouso.


segunda-feira, 20 de julho de 2015

Dia do comunismo amigável ou sobre o desamparo


dia disso
dia daquilo
tomara que
um dia
isso mude
e todos os dias
sejam dias
de todo mundo.


#moniquefranco, 20 de julho de 2015

domingo, 19 de julho de 2015

Abraço ou como morrer velhinho


abraço
laço
leve
apertado
abraço
sentado
abraço deitado
dormir juntinho agarrado
acordar todo molhado
abraço suado
laço dobrado no tempo
em que não pude estar do seu lado
abraço forte  
forte apertado
abraço entrelaçado
abraço novo
velhinho abraço 
braço com braço
lado a lado
para sempre
eu e você abraçados.
#moniquefranco

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Os limpos ou para Líria Porto




os limpos não cagam
os limpos se preocupam
apenas
em limpar o próprio escarro
que escorre pelas narinas
sorriso entre os dentes
mau hálito
espasmo nervoso
não param de lavar
as mãos
dá pena de ver
e pena
não se pode
comprar ou vender
melhor seguir Zaratustra
no caos reside a liberdade
e essa não se ganha
com idades
é sim um descaso
de nascença
por toda e qualquer
moral

os limpos
cagam regras
compram o papel higiênico
em que escrevemos versos
que bebemos nos vasos sujos
espalhados por aí
nas mentes sem lei
os limpos são fraternos
por demais
sempre desconfiei de nobres demasias
é tão obvio
elas escondem condenadas fantasias
os limpos
se imaginam eternos
e talvez pra alguns serão
a eternidade é como a esfera
a distância
de cada ponto ao centro
é a mesma
mas os caminhos
os caminhos são diferentes
pois o centro
escapa  aos olhos distraídos
quanto estes encontram o luar
por exemplo

os limpos
não cagam
não perdem rascunhos
tudo vem pronto
certinho
rimado
direitinho
melhor seguir os anjos não santos
não normais
que dão as mãos aos demônios
todos esses de nós
meros mortais
no limbo
do prazer que satisfaz

os limpos não engolem
cospem junto o desejo
os limpos se cagam de medo
de tomar no cú
embora adorem
as putas das estradas
mas casam com
as santinhas do interior
traí-las parece ter mais sabor
os limpos almejam
sobretudo
o lugar da vítima
pega despercebida
foi bom pra você?

#moniquefranco, 13 de julho de 2015, limpinha indo dormir pra sujar a noite de amor.




quarta-feira, 8 de julho de 2015

Gastura ou sobre o presente de uma poeta generosa


Felizidade, Adriane Garcia


o que nasce
cada ano
mais uma vez
chamam de idade
essa gastura
porque não cessa

quem nasce
todo dia
mais de uma vez
letrando
entranhas
do ser
do viver
essa gastura
porque calmamente inquieta
atende por poeta

quem mandou nascer poesia
não cessa
de belezura
por mais que às vezes dura
concisa e segura
como uma flecha

que perdure
que perdure
essa sua
rara
generosidade
esse é o seu maior presente
para nós
formas de eternidade.

#moniquefranco, 8 de julho de 2015, obrigada poeta, felizidade para você e sua repleta família ! Você merece.