sábado, 29 de novembro de 2014

CINETRILHAS - Cinema Paradiso & Ennio Morricone - "Luz, Câmera e Canção"







O Cinetrilhas deste mês, no bloco Luz, Câmera e Canção, homenageia o querido Ennio Morricone, compositor, arranjador, e maestro italiano, autor da trilha sonora do clássico Cinema Paradiso (1988), escrito e dirigido por Giuseppe Tornatore. Ao longo da sua carreira, já assinou pela composição e arranjo de mais de quinhentos filmes e programas de televisão. Vinte e cinco anos se passaram da sua indicação ao Oscar e a eterna canção está mais viva do que nunca. Restaurado digitalmente pelo Istituto Luce Cinecittà e pela grife Dolce & Gabbana, o longa foi exibido na cerimônia de abertura do festival Cinema Italian Style, no último 13 de novembro e recebeu calorosa recepção.



Morricone não é apenas um sujeito com alma rock'n'roll numa figura de maestro. É o mais versátil compositor de trilhas sonoras de todos os tempos, justamente pela sua capacidade de associar elementos tão distintos da música popular aos rígidos padrões da música erudita.

Nascido em Roma em 1928, o jovem Ennio formou-se no Conservatório de Santa Cecília, completamente encantado pelo jazz americano, tanto que seu instrumento original foi o trumpete. Na trilha do filme Por um milhao de dolares - 1964, empreendeu uma pequena revolução ao inserir instrumentos dissonantes e enlouquecidos, como gaitas judias, metais desafinados, bateria, baixo e guitarra elétricos.


A partir daí, Morricone seria associado à imagem dos filmes de cowboy filmados ao longo das décadas de 60 e 70, dos mais "sérios", estrelados por Clint Eastwood, aos mais debochados, como a série de comédias Trinity de Terence Hill e Bud Spencer
Ennio Morricone venceu cinco prémios BAFTA entre 1979 e 1992. Foi também nomeado pela Academia de Hollywood para cinco estatuetas de melhor trilha sonora original entre 1979 e 2001, não tendo  vencido nenhum delas.

Em 2007, Morricone recebeu pelas mãos de  Clint Eastwood um Oscar honorário "pelas suas magníficas e multifacetadas contribuições musicais ao cinema". Mas parece  que o agrado que não acertou as contas de Hollywood com o maestro.

Morricone veio a primeira vez ao  Brasil em maio de 2007 numa apresentação no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Ele voltou cinco vezes ao palco para agradecer à salva de palmas recebida sendo que três delas à pedido da própria orquestra. Levemente surpreso e sutilmente feliz com a ovação que recebeu, o franzino maestro deixou o palco andando rápido, evitando seu nono bis, coroando uma apresentação absolutamente inesquecível e sem paralelos.

E o maestro continua a todo vapor, produzindo música para séries televisivas, especiais e, claro, filmes.

Vamos fechar essa homenagem ouvindo uma nova e linda interpretação para a lendária canção Cinema Paradiso  com a  jovem soprano brasileira  Bruna Amaral.


Que a história das nossas vidas tenha sempre, de fundo, uma linda canção. Inté!


#moniquefranco, cinemando com a música

                                        Cinema Paradiso.Completo on line


           
         






terça-feira, 25 de novembro de 2014

Currículo sem fim ou entre a toupeira e a serpente





CURRÍCULO SEM FIM OU ENTRE A TOUPEIRA E A SERPENTE: 
DOS MOLDES E ÀS MODULAÇÕES
FRANCO, Monique - UERJ
LEAL, Rita - UERJ


Muitos jovens pedem estranhamente para serem "motivados",
e solicitam novos estágios e formação permanente;
cabe a eles descobrir a que estão levados a servir,
assim como seus antecessores descobriram, não sem dor,
a finalidade das disciplinas.
Os anéis de uma serpente são ainda mais
complicados que os buracos de uma toupeira.   
(Deleuze, 1992: 221 2 226).


1.        Currículo sem-fim

Currículo sem-fim é o termo pelo qual buscamos sintetizar, de maneira problematizada, a noção de uma formação permanente, contínua, “adequada”, ao que parece, às novas configurações e expectativas conferidas hoje ao estatuto do conhecimento.
Quando pensamos em currículo, esse campo de saberes que teve origem no final do século dezenove e atravessou o século vinte adquirindo legitimidade, especificidade e o paulatino reconhecimento de sua potência na produção de identidades individuais e sociais, pensamos, ainda, muitas vezes, na seleção dos conteúdos e práticas necessárias à formação humana. Se olharmos para essa seleção, berço de todo o conhecimento social acumulado, veremos que a despeito de maquiagens e enxertos, pouco fundamentalmente se alterou posto que o grande mito moderno do progresso humano, o projeto iluminista, ainda se impõe quando listamos os conhecimentos necessários ao nosso ser-no-mundo, ainda que esse mundo e mesmo esse ser, tenham perdido um lugar essencializado. Continuamos a selecionar, organizar e transmitir a chamada cultura universal praticamente da mesma maneira que outrora, mesmo quando incorporamos o conhecimento local ou propostas interdisciplinares em nossas novas globalidades.
Parece-nos, sobretudo, que a maior parte dos currículos oferecidos nos diferentes espaços educativos indicam ainda um forte apego ao modelo cartesiano clássico e sua abordagem analítica em que se parte do modelo mais simples para se chegar ao complexo. A tradicional e pouco alterada estrutura de seriação é um exemplo emblemático desse modelo. Ou seja, nossos currículos espelham ainda as clássicas distinções modernas que demarcaram claramente as fronteiras entre natureza e cultura ou criatura e artefato, entre sujeito e objeto ou entre corpo e pensamento, entre interioridade e exterioridade ou entre o indivíduo e o meio. Há um legado cartesiano que nos forma, conforma e deforma, nossos corações e mentes; um legado cartesiano que ainda nos classifica e objetiva.
Por um lado, tudo indica que a escola, em seus diferentes níveis e modalidades, intenciona passar imune aos impactos do acelerado processo de “des-humanização” promovido pelas tecnociências[1] e ao processo de constituição de novas subjetividades e identidades, novos acessos ao entendimento do cogito e, consequentemente, a novas formas de produção conhecimento-informação-formação. Por outro, parecem existir espaços e discursos nos quais indícios de incorporação de uma nova lógica no processo de formação humana começam a se impor e constituir novas territorialidades e também outras formas de poder. São os modelos denominados de formação permanente sobre os quais esse estudo pretende fazer uma análise crítica.
O recorte que trazemos aqui, a noção de currículo sem-fim, parece indicar esse lugar em que um sem-fim de saberes e práticas vão diretamente ao encontro de uma “lógica das modulações” engendradas pelas sociedades denominadas por Deleuze[3] como sociedades de controle e que ocupam papel de destaque nos modelos de formação humana em curso.
No contexto educacional compreendemos por modulações uma operação de formação que ocorre de maneira contínua e sem-fim, de acordo com as variações constantes e flexíveis, em consonância com um modelo de sociedade que funciona por meio de um controle intenso e diluído. Vale observar, também, que esse novo modelo emerge de uma crise generalizada de todos os modelos de confinamento identificados por Foucault[4] em suas análise acerca da sociedade disciplinar. Com isso, queremos afirmar que coadunamos com a hipótese de que já não existe mais apenas um local privilegiado de reserva de conhecimento institucionalizado e que os espaços escolares, na atualidade, em suas diferentes modalidades e níveis de atuação, dividem e competem com outros operadores na tarefa de produzir e transmitir conhecimento.
Para consubstanciar nosso estudo, inicialmente, utilizaremos como pano de fundo, uma síntese da passagem da sociedade denominada por Foucault[5] como disciplinar para as análises de Deleuze[6] acerca da sociedade de controle. Em seguida, desenvolvemos os entendimentos dos conceitos de molde e modulação, que para nós reafirmam essas mesmas configurações dos dois modelos sociedade expostos acima, bem como, expressam as contradições e desafios hoje postos ao campo do currículo e ao da formação. A concepção de currículo sem-fim será central em toda a análise tendo destaque nas considerações acerca das novas modalidades de formação que se configuram nas chamadas Universidades Corporativas, tangenciando os impactos e desafios que esses novos modelos colocam hoje à formação humana e, mais especificamente, ao campo do currículo.

2. Da disciplina ao controle ou a quitação aparente

Os séculos XVIII e XIX herdaram a difícil tarefa de sistematizar teórica e praticamente, no que diz respeito à educação, as conquistas dos séculos anteriores. Frente ao ideal da Revolução Francesa nesta área, defendendo o estabelecimento de escolas públicas para todos os cidadãos, e dos pressupostos da modernidade de universalidade, estatalidade e gratuidade, mudam os fins da educação, passando esta a ser direcionada para um sujeito ativo na sociedade, racional, alimentado de fé laica e potencialmente capaz de transformar a realidade. Se antes da modernidade o indivíduo se compreendia e se reconhecia na tradição, pensada de forma mítica, paradigmática e modelar, na modernidade o indivíduo se apreende como histórico, inacabado, buscando o acabamento que vai lhe dar a sua verdade, sua identidade, seu reconhecimento. A modernidade exige um indivíduo responsável, senhor do seu poder de contrariar as paixões e afecções em nome dos fins racionais que vão constituir sua identidade.
Embora a modernidade seja orientada pelo discurso de emancipação e libertação do homem, da sociedade e da cultura, na sua ambigüidade, ela também constrói uma maquinaria de poder através do controle dos corpos, para que estes operem como deve. Esse controle minucioso das operações do corpo sujeita suas forças e lhe impõe uma relação de docilidade-utilidade, denominada por Foucault[7] de disciplina. Desse modo, o século das “Luzes que descobriram as liberdades, inventaram também as disciplinas”[8]. Nesse contexto, a escola ocupa um lugar cada vez mais importante para o desenvolvimento da ideologia, e do sistema econômico da sociedade moderna, posto que se encontra profundamente envolvida no processo de individualização, vigilância e disciplina do saber e do homem. É a escola que ensina conhecimentos e também comportamentos; que se estrutura em torno da didática, da racionalização da aprendizagem dos diversos saberes, como também da conformação programada e das práticas cerceadoras, produtoras de novas subjetividades.
Surge então um currículo, como criação da modernidade, que envolve formas de conhecimento cuja finalidade consiste em regular e disciplinar o indivíduo, mas que também, em tese, buscaria a sua emancipação. O currículo moderno, humanista no primeiro momento, retoma a idéia de cultura literária e retórica da Paidéia clássica, para depois assumir uma mentalidade mais científica, até incorporar todos os novos elementos e exigências das mudanças trazidas pela modernidade. Para além de sua face explícita representada pela seleção, definição e ordenação dos saberes, visualizamos a presença do poder, diluído em uma multiplicidade de estruturas e normatizações, que atua através da vigilância e do controle, para a fabricação da identidade e da subjetividade “dócil”[9].
Como sabemos, na sociedade disciplinar moderna o poder exerce uma coerção contínua, ininterrupta, que mecaniza os movimentos, os gestos, as atitudes, visando obter maior eficácia e economia.
Esse controle minucioso das operações do corpo sujeita suas forças e lhe impõe uma relação de docilidade-utilidade, denominada por Foucault[10] de disciplina. Sob esse aspecto, a disciplina visa não somente aumentar a capacidade das habilidades individuais e aprofundar sua sujeição, mas, principalmente, desenvolver uma relação que torna o indivíduo tanto mais obediente quanto mais útil, sendo o inverso também verdadeiro. Resumidamente, a disciplinaridade consiste em um conjunto de técnicas de subjetivação.
Rastreando a produção da subjetividade no espaço escolar, verifica-se a definição dos espaços para cada tipo de atividade. Tanto as atividades dos alunos, como o tempo e o espaço disponível são controlados em horários e espaços determinados, segmentados, que institui a escola como o lugar da disciplina, de seu aprendizado e de seu exercício. No bom emprego do corpo, que possibilita um bom emprego do tempo. Esse tempo disciplinar que aos poucos se impõe à prática pedagógica define programas, assim como a sua duração, hierarquiza os saberes, especializa o tempo de formação e qualifica os indivíduos de acordo com o desenvolvimento obtido nas séries que percorre. O poder se articula diretamente sobre este tempo, controlando-o, capitalizando-o e garantindo sua utilização eficaz. Os procedimentos disciplinares revelam um tempo linear, formado por instantes que se integram uns com os outros, na direção progressiva de um ponto definido que se encontra, supostamente, a sua frente. Essa idéia de tempo cumulativo, “evolutivo”, realiza no indivíduo, por  meio da continuidade, da repetitividade e da coerção, uma ideia de crescimento e qualificação.
Aqui nos interessa frisar que as instituições disciplinares são meios de confinamento que funcionam como espaços de moldagens independentes. Nesse processo de moldagem, os indivíduos passam por diferentes espaços de confinamento (escola, exército, fábrica) e delas saem de maneira linear, por elas formado. Cada instituição possui suas regras e lógicas de subjetivação: “A escola nos diz: Você não está mais na sua família’; e o exército diz: Você não está mais na escola’”[11]. Por serem meios independentes, entre um confinamento e outro, as instituições pré-requisitam, no ato do ingresso, um começo do zero. Em contrapartida oferecem, no momento do seu egresso, o sentimento de quitação aparente[12], ou seja, a sensação de que a “dívida” contraída pelo sujeito com a instituição e consigo mesmo se encontra supostamente quitada. Esta sensação perdura até o próximo ingresso em outro confinamento, que por sua vez pré-requisitará um novo recomeço e assim sucessivamente. No modelo disciplinar este processo, que se prolonga indefinidamente, leva o indivíduo a viver num estado de eterno recomeço. O espaço disciplinar passa a ser utilizado para quadricular o indivíduo, ou seja, atomizá-lo, não os deixando perceber que estão sendo moldados e organizados para as tarefas. Após fazer com que o indivíduo perca a noção do todo, reduzindo uma multiplicidade tida como caótica a uma homogeneidade constante ou a um padrão de conduta básico, é preciso analisar o comportamento do indivíduo para utilizar as comunicações necessárias para que ele passe a incorporar o discurso preestabelecido, vigiando-o e medindo suas qualidades e sua utilidade em todos os momentos.[13]
Na sociedade contemporânea, verifica-se a passagem para a sociedade de controle preconizada por Deleuze [14]. Contudo essa passagem não é de oposição e sim de intensificação. Embora as subjetividades continuem sendo produzidas pelas instituições sociais, essas produções se intensificaram e foram levadas ao extremo, e toda subjetividade é reconhecida como artificial.[15] Para Hardt[16] o controle pode ser definido como “uma intensificação e uma generalização da disciplina, em que as fronteiras das instituições foram ultrapassadas, tornadas permeáveis, de forma que não há mais distinção entre fora e dentro.”[17]
A sociedade moderna se concebia em termos de território – real ou imaginário – e da relação desse território com o seu fora, condição central para o seu bom funcionamento. Na sociedade de controle embora ainda existam as instituições (família, escola, exército, prisões) seus muros se encontram em franco desmoronamento tornando impossível distinguir entre fora e dentro. Suas lógicas percorrem superfícies sociais ondulantes, em ondas de intensidade, seus espaços são impuros, híbridos, e sua organização, que antes se dava em torno de grandes conflitos, hoje se dá em torno de uma rede de microconflitualidades. O poder é total e constante operando velozmente por meio de modalidades digitais, contínuas, fluídas, ondulatórias, mutantes, que se espalham aceleradamente por todo corpo social.
 O homem experimenta a interatividade com as máquinas e seus bancos de dados, com os mecanismos de controle, a exemplo das câmeras de vigilância, com a comunicação planetária em que informações são trocadas, com os sistemas telemáticos, vivenciando uma identidade não-linear, hiperconectada e distribuída em escalas globais, em mesclas do real e do virtual tecnológico, decorrente das interações com os novos meios de comunicação e informação. Estes, na sua materialidade tecnológica, formam o principal sistema produtor e divulgador da informação. Considerando que a informação é matéria prima para a construção do conhecimento e que a escola, dentre os inúmeros espaços formativos e educacionais, ainda se constitui como o espaço de ordenação, sistematização e divulgação do conhecimento socialmente validado, continua pertencendo ao discurso escolar o reconhecimento e a credibilidade de elaborador e detentor do conhecimento sistemático e legítimo. Seria conveniente pois, dizer que a escola repense seus conceitos, suas práticas e sua estruturação curricular para fazer frente às mudanças engendradas pela sociedade modular de controle. Mas pensar em mudança dessa forma, nos remeteria a lógica teleológica de progresso e aperfeiçoamento e mesmo, dá margem para que as mudanças em curso sejam apreendidas apenas de forma utilitária e perversa deixando de lado a própria imanência dessas transformações e seu caráter processual, inacabado e heterogêneo.
Na moldagem disciplinar a escola centralizava, hierarquizava e selecionava a informação, atendendo ao princípio pedagógico de sistematização do conhecimento socialmente validado e necessário para todos. Ao professor, no papel de mediador do interesse geral e “detentor do conhecimento”, cabia emitir uma mensagem homogênea que todos os alunos receberiam, assumindo o modelo de transmissão “um-todos”, em consonância com o modelo de divulgação da informação articulado nos meios de comunicação de massa (rádio, televisão, jornal) existentes até então. Aos alunos, vistos como meros receptores, restava apenas a decodificação da mensagem enviada, sem qualquer questionamento crítico ou interferência no processo de seleção dos saberes. O currículo se constituía, por excelência, no mecanismo de seleção, hierarquização, seqüencialidade e ordenação, no tempo e no espaço, desses saberes.
Com a fragmentação, o descentramento, a descontinuidade e a imediaticidade dos textos e imagens que compõe a linguagem digital, a moldagem da verticalidade curricular - inspirada na metáfora da árvore[18] como forma clássica de representar a estrutura dos saberes e das ciências - agoniza, frente à sociedade modular que impõe a formação ininterrupta – a chamada formação permanente. Verifica-se uma crise generalizada com relação às instituições que serviram de base à aplicação das sociedades disciplinares de Foucault, no sentido de que o lugar de sua efetividade é cada vez mais indefinido e suas lógicas disciplinares, embora não tenham se tornado ineficazes, se encontram generalizadas como formas fluídas através de todo o campo social. Na contemporaneidade, em que a mensagem é de indeterminação e maleabilidade e o domínio da incerteza, o modelo curricular moderno, ainda vigorando e sendo praticado, revela-se insuficiente para dar conta da multiplicidade de conhecimentos intercambiáveis, que se articulam nas mais variadas direções, por meio das novas tecnologias. O rizoma de Deleuze e Guattari[19], que se apresenta como forma de pensar e compreender o atual estágio do conhecimento humano, anuncia mudanças que ficam muito mais dentro dos meios acadêmicos do que nos currículos escolares. A topologia da rede corresponde ao modelo de comunicação “todos-todos” que rompe com a hierarquização entre emissores e receptores, abrindo possibilidades para que todos possam ser emissores de informação. Isso significa a descentralização do conhecimento em áreas específicas e segmentadas, passando a estrutura curricular do modelo arbóre para o modelo rizomático.[20]
 No modelo rizomático do conhecimento de Deleuze e Guattari[21] não existe escalas hierárquicas ou um ponto central. Todos os tipos de associações são possíveis de serem realizadas por meio das interações. Definidos como espécies de “hastes ou caules subterrâneos, diferenciam-se dos demais tipos de raízes pois têm formas muito diversas”. Qualquer um dos seus pontos pode e deve ser conectado a outros, rompido em um lugar qualquer, e também retomado segundo uma ou outra de suas linhas e segundo outras linhas.[22] No rizoma não se verifica a existência de pontos ou posições definidas, mas apenas linhas de segmentaridade e de desterritorialização, interconectadas, planas, que remetem umas às outras, em que se inter-relacionam diversas possibilidades: “acontecimentos vividos, determinações históricas, conceitos pensados, indivíduos, grupos e formações sociais”.[23]
Hoje, a noção de "rede" está presente (ou onipresente) em todos os campos, práticos e teóricos e, marcadamente, no campo educacional. Evocando, em certa medida, o conceito de rizoma, a rede comporta, entre outros, os princípios da conexão entre os nós que a constitui; o princípio da heterogeneidade, da multiplicidade, da interação e da troca. A forma mais corrente de definir a rede é compará-la a um conjunto vivo de significações, onde tudo se conecta: os hiperdocumentos entre si, as pessoas entre si e os hiperdocumentos com as pessoas. Para a educação, a rede se constituiria, ao mesmo tempo, em uma imensa biblioteca acessível a todos,[24] como também em um lugar onde todos compartilhariam a construção do conhecimento, por meio da troca e da interação. Cada ator inscreveria sua identidade na rede à medida que articula sua presença no trabalho de seleção e navegação nas suas áreas de interesse. A característica não-linear, horizontal, do percurso possibilitaria novas formas de intervenção por parte dos usuários, garantindo-lhes a liberdade de saltar de uma fonte para outra, compondo seu próprio itinerário, sem começo nem fim.
Sem dúvida alguma, o modelo rizomático aponta para a possibilidade de romper com o modelo tradicional de currículo, exigindo e potencializando não apenas uma nova concepção de educação, que alteraria radicalmente as relações tradicionais professor/ aluno e ensino/ aprendizagem, mas também uma nova forma de pensar a construção do conhecimento, a formação das identidades e do mundo que nos cerca. Contudo, o que se verifica é um processo extremamente conflituoso e paradoxal que tende a se desdobrar em duas questões fundamentais. A primeira aponta para a permanência, ainda que com algumas maquiagens da vigência de uma concepção de educação fundada na idéia da transmissão de informações por meio do modelo “um- todos”, tradicional e “bancário”, tendo por sustentação a concepção curricular de raízes arbóreas. Esse modelo que cria uma dicotomia entre a escola e as demandas da sociedade modular, distancia a escola dos outros fenômenos sociais, abrindo brechas para outras instituições ocuparem o espaço de formação do indivíduo e de preservação da cultura que antes era atribuído, preferencialmente, à instituição escolar. Como conseqüência desse distanciamento reforçam-se os discursos que defendem a formação permanente, posto que o espaço escolar já não dá conta dessa função.
É exatamente aqui que entra a segunda questão. O que assistimos tende muito mais a um novo tipo de controle do que a possibilidade de “liberdade” que a rede indica como constituição. Para Deleuze[25] a chamada formação permanente tende a substituir a escola e o controle contínuo, o exame. Como conseqüência, teríamos o novo modo insidioso com que o modelo empresarial se afirma e se expande, penetrando no sistema educacional, generalizando e entronizando seus princípios, seus critérios de avaliação, produzindo, assim e de maneira disseminada, o tipo de identidade a que ele melhor se ajusta: auto-centrada, competitiva e afinada às exigências do mercado.[26]

2.        Dos moldes às modulações ou a moratória ilimitada

            Deleuze[27] nos dá como exemplo da lógica da modulação a substituição do modelo da fábrica para o de empresa. Note-se que essa substituição implica tanto o modelo da organização da produção/consumo, como a própria gestão da vida e dos modelos de formação. Se no modelo disciplinar/fabril, a remuneração fica ancorada no sistema de prêmios e promoções, no modelo controle, a tendência é a introdução de modulações para cada salário, indicando uma competição interminável que será entendida como saudável, produtiva, posto que foi desejada e estimulada.
É fato que as novas tecnologias têm produzido novas temporalidades que, por sua vez, incidem sobre o modo de perceber e experimentar o mundo, interessantes para sustentar um certo regime de vida, que vai se fortalecendo a medida em que a mesma produz as subjetividades que lhes são adequadas. Com isso, esse novo regime de sociedade produz não só novas relações de poder como novas subjetividades.
Deleuze[28] marca mais uma vez as distinções que nos parecem importantes para entender esse novo formato. Ele afirma que enquanto nas sociedades disciplinares a velha assinatura identifica os indivíduos e o número de matrícula assinala nossa posição em uma massa, nas sociedades de controle, correspondemos a uma senha, que franqueia ou barra o nosso acesso à informação ou a passagem – a inclusão em um espaço. Em vez do indivíduo-massa-anônimo, característico da sociedade de disciplinar, teremos o que Deleuze[29] denominou de indivíduos “dividuais”, divisíveis. Por exemplo, com a interface gráfica trazidas pelo sistema informacional – nossas novas janelas para a vida – experimentamos a possibilidade de múltiplas personalidades coexistindo em nós e aprendemos a conviver com nossos muitos eu's, repartidos nos diferentes bancos de pertencimento e que só encontram nexo e desenvolvimento no interior do próprio banco. Já as massas, essas se tornariam amostras, dados armazenados em bancos de dados que tem como objetivo não só fazer previsões como também estabelecer perfis de consumo, de cognição, de atividades e comportamentos.
No caso da educação, delineia-se um novo paradigma: o de uma formação permanente, sem-fim, em que cada vez menos dissociam escola e o meio profissional, como espaços fechados e distintos, forjando-se figuras híbridas como as do operário-aluno ou a do executivo-universitário. Pensando na trajetória dos próprios professores, sua formação também prevê uma formação sem-fim, por meio de cursos de atualização, especializações lato sensu ou stricto sensu, “reciclagens”, ou de formação continuada[30], face, sobretudo, as crescentes exigências do mercado, bem como a vinculação desses dispositivos aos planos de cargos e salários.[31]
A diferença que parece imperceptível é que antes as técnicas disciplinares operavam na duração de um sistema fechado, que se sustentava em um modelo de identidade a ser perseguido, construindo uma trajetória coerente para a consciência que resultaria na construção de uma identidade modelarmente definida. Agora, os novos dispositivos efetuam-se por meio aberto, apoiando-se na tecnologia para produzir formas ultra-rápidas de controle, considerando que as situações vivenciadas constituem-se como bancos de dados diferenciados. O processo de dividuação exige exposição diferente em diferentes bancos de dados, importando, sobretudo, a possibilidade de sustentar a diversidade no seio da própria dividuação.
Nesse contexto modifica-se o ethos educativo que passa a impor novos ritmos e dimensões ao processo de ensino/aprendizagem. Caracterizada como uma sociedade em contínua adaptação, em que nunca se termina nada, a sociedade de controle cobra, tanto do aluno quanto do professor, uma postura de aprendizagem permanente e de constante adaptação ao novo. O sujeito constantemente modulado vive o processo denominado por Deleuze[32] de moratória ilimitada[33], em que a “dívida” frente às instituições se torna impossível de ser quitada. Como desaparece a possibilidade de considerar-se alguém plenamente formado, independente do grau de escolarização alcançado, prioriza-se a formação permanente que para Deleuze se constitui no “meio mais garantido de entregar a escola à empresa”. A educação que antes “moldava”, formava e conformava o indivíduo para o mercado de trabalho, representado em grande parte pela fábrica, hoje “modula” para atender ao ethos empresarial cujo discurso incentiva e valoriza a capacidade dos indivíduos e das estruturas organizacionais de se modularem, permanentemente, às constantes mudanças decorrentes do avanço da ciência e da técnica. Desse modo, os vínculos estáveis de trabalho são desqualificados e desvalorizados, passando a ser valorizada a capacidade de empregabilidade de cada um. Isso além de, perversamente, romper com as relações fixas, incentivando a competitividade, amplia para o cultural, para as relações interpessoais e para o afetivo a instabilidade que o sujeito vive no campo do trabalho. Assim, a instabilidade no emprego, o culto ao novo, ao descartável e ao efêmero, regem e justificam a superficialidade das relações afetivas, ao mesmo tempo em que incentivam o consumo, tornando a noção de competência[34] a mais apropriada, posto que atende perfeitamente ao discurso da globalização de valorização da polivalência.
Segundo esta nova lógica, o conhecimento estaria, portanto, se transformando no recurso que mais agrega valor aos negócios e, por conseguinte, à economia. Estimular, manter e desenvolver as competências necessárias para o sucesso do negócio tornou-se o desafio primordial da gestão de pessoas contemporânea. Contudo, essa lógica é perversa na medida em que faz crer que a educação é a mera aquisição do conhecimento e que esta é a solução para todos os problemas. Conhecimento é nada, ou quase nada, quando não usado adequadamente, apropriadamente e corretamente nas mais variadas situações da vida pessoal e profissional. A esta nova capacidade de utilização os gestores denominam como a já citada aqui “competência”. Não existe “competência” sem o devido conhecimento para ser usado, mas existe conhecimento sem a devida competência para usá-lo, o que, de qualquer forma, é péssimo.
Com o objetivo de melhorar a gestão e ganhar competitividade, oferecendo um diferencial na guerra pela conquista e manutenção de mercado, as empresas estão assumindo o papel da reciclagem e da complementação educacional abandonando o treinamento rápido em áreas específicas para oferecer um enfoque mais estratégico, muito mais a serviço do capital do que do trabalhador propriamente dito, posto que visa garantir a permanência e/ou liderança da empresa no mercado. A empresa se encarrega da educação corporativa para divulgar o diferencial de seus produtos, formando e apelando para a consciência social, política, ética, ecológica, etc., associando ao produto os conceitos considerados como “politicamente correto”. É a lógica do capitalismo de superprodução em que a mercadoria é fetichizada, e a educação mercadologizada.

3.        Hamburgers , toupeiras e serpentes ou os sete hábitos das pessoas altamente eficazes[35]

Uma série de organizações, principalmente nos Estados Unidos, vem se beneficiando dos conhecimentos e habilidades que têm ajudado a promover a partir da criação de departamentos ou instituições voltados especificamente para a promoção da aprendizagem organizacional. No Brasil já iniciaram suas atividades a Motorola University[36], Universidade do Hambúrguer da McDonald’s, Escola Amil, Instituto de Formação Carrefour, Universidade Algar, Unite da Telemar, Universidade TAM, Academia Universidade de Serviços do grupo Accor, Boston School do Bank Boston, Visa Training e Universidade Datasul, entre outras. Essas organizações criaram centros de ensino próprios para a condução de atividades voltadas para a aprendizagem, denominadas universidades corporativas. Uma breve consulta aos sites destas corporações, evidencia a inexistência de qualquer estrutura curricular preocupada com uma formação mais ampla. Os cursos oferecidos são voltados unicamente para adequar os alunos aos interesses da empresa, reafirmando suas políticas comerciais e de marketing. Tomando como exemplo o site da Universidade do Hambúrguer do McDonald’s verificamos a oferta dos seguintes cursos: Relações com a Mídia, Técnicas de Apresentação e Facilitações, Consultoria de Negócios, Marketing básico, curso avançado de Operações, Práticas de Liderança de Restaurante, Práticas de Liderança de Negócios, curso básico para Gerente e Operador e Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes.[37] Ou seja, fica claro que a preocupação não reside na construção do conhecimento, de forma mais ampla, ou no desenvolvimento humano e sim no aprimoramento das técnicas, das competências e habilidades, para atender as demandas da empresa frente as exigências do mercado. Muitas destas instituições têm estendido os seus programas de educação e treinamento a fornecedores, clientes, franqueados e a outras empresas, ao mesmo tempo em que transformam suas universidades corporativas em uma fonte de receitas expressiva. Atualmente, novas formas de uso da força de trabalho estão sendo delineadas, assim como, novas exigências em termos de qualificação para o trabalho, decorrentes dos impactos da revolução tecnológica. O discurso que busca associar o alto índice de desemprego a baixa qualificação profissional, provoca uma busca desenfreada pela qualificação, ocultando a verdadeira causa do desemprego como um problema político estrutural.
Retomando a metáfora construída por Deleuze[38], os túneis estruturais da toupeira que forjavam moldagens fixas, distintas, estão sendo substituídos pelas ondulações infinitas da serpente, que funciona por redes flexíveis moduláveis, “como uma moldagem auto-deformante que mudasse continuamente, a cada instante, ou como uma peneira cujas malhas mudassem de um ponto a outro”[39]. Não mais se faz necessário confinar, submeter ou moldar, sendo apenas necessário “modular” o indivíduo, por meio da informação contínua veiculada pelos meios. O controle é de curto prazo e de rotação dinâmica, mas ao mesmo tempo contínuo e ilimitado. Desse modo, o controle não se dá mais pela contenção e sim pela pasteurização do pensamento e da capacidade de reação das pessoas, que passam a viver segundo as “normas” veiculadas pelos meios de comunicação de massa e pela propaganda. Nesse contexto o projeto do pensamento calcado no futuro coletivo é deposto, para em seu lugar reinar o individualismo, ou seja, o centramento narcísico do indivíduo em si mesmo e a ênfase no aqui e agora, no consumo sem fim. Se antes a família, a escola e o trabalho constituíam o mundo e vigorava a crença de que este mundo podia ser melhorado por meio da ideologia, da luta política ou da prática religiosa, hoje os meios de comunicação propagam a necessidade e o desejo, ao mesmo tempo em que fortalecem a ilusão da ascensão infinita. A compreensão do mundo, seus problemas e soluções são condicionados a uma concepção utópica de que podemos atingir nossas metas se consumirmos determinadas identidades associadas a determinadas marcas. “O homem não é mais o homem confinado, mas o homem endividado” escreve Deleuze.[40]
Para finalizar esse ensaio, tendo em vista o caráter processual e inacabado que constitui o nosso tempo, temos entretanto mais indagações a fazer, nos redobramos em questões , tentando pensar a partir e com esse pensamento já pensado e aqui esboçado.
Contradições do tipo: a princípio o caráter rizomático exposto pelo modelo de rede tende a aparecer nas análises vinculadas ao campo educacional e mais especificamente, ao campo curricular, de forma positivada, em contraposição as estruturas seriais anteriores.
Todavia, apresentamos aqui de uma estrutura formativa que supostamente se alimenta das mesmas fontes, que supostamente dialoga com a mesma lógica modulativa indicada pela rede, mas que, no entanto, se utiliza dessa estrutura de forma totalmente diferente, impondo um ritmo competitivo e engendrando o modelo do currículo sem-fim como modelo formativo.
Ficam as indagações. Qual seria o currículo do futuro? Um futuro que vem se presentificando com as evidências do domínio da pré-visão sobre a visão, de uma lógica de controle que vai além da norma, além da introjeção e simplesmente passa de fato a se constituir como modelo de produção de subjetividades. Como poderíamos pensar a aliança modulação e formação tendo em vista o pensamento educacional e mais precisamente, o campo curricular. Ou seja, como escapar dos anéis da serpente sem cair no buraco da toupeira?

Referencias Bibliográficas:
DELEUZE, Gilles, GUATTARI, Félix, Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia,vol.1, Rio de Janeiro, 34, 1995.
DELEUZE, Gilles, Conversações, Rio de Janeiro: Ed. 34 Literatura, 1992.
FOUCAULT, Michel, Vigiar e punir; 25ª, Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
HARDT, Michael, A sociedade mundial do controle; in ALLIEZ, Eric (org.) Gilles Deleuze: uma vida filosófica, Rio de Janeiro: 34, 2000.
KENSKI, Vani Moreira, Novas tecnologias: o redimensionamento do espaço e do tempo e os impactos no trabalho docente, apresentado na XX Reunião anual da ANPED, Caxambu, 09/1997.
[1] Utilizamos aqui a noção de tecnociência para indicar a condição de contínua imbricação entre a ciência e a técnica.
[2] Aludimos às transformações que estão ocorrendo no campo do conhecimento em que a informação passa a configurar um novo paradigma formativo.
[3] Cf. Deleuze, Gilles. Conversações. Rio de Janeiro: Editora 34 , 1992.
[4] Cf. Foucault, Michel. Vigiar e Punir, 25º Ed.,Petrópolis: Editora Vozes, 2002.
[5] Idem.
[6] Cf. Deleuze, op. cit, 1992.
[7] Cf. Foucault, Michel. Op. cit. 2002
[8] Idem. p.183.
[9] Idem.
[10] Ver o conceito de disciplina articulado por Foucault em seu livro Vigiar e Punir, Rio de Janeiro: Vozes, 2002.
[11] Cf. Deleuze,G. Conversações, Rio de Janeiro: 34, 1992; p. 219.
[12] Idem, p.222.
[13] Podemos citar o exame como possuindo um papel central na moldagem e na normatização do indivíduo, posto que combina as técnicas da vigilância hierarquizada com as da sanção que normaliza. No interior do exame podemos identificar a reunião da cerimônia do poder e a forma da experiência, a demonstração da força e o estabelecimento da verdade. É por meio do exame que a superposição das relações do poder com o saber alcança o seu apogeu, sendo por isso que em todos os estabelecimentos de disciplina o exame é altamente ritualizado. Nesse sentido, a escola funciona como uma instância ininterrupta de exames, que se fazem presentes durante todo o processo de ensino, e estabelecem a ligação entre um certo tipo de formação de saber, e uma certa forma de exercício de poder. Seu aspecto ritualístico, seus jogos de perguntas e respostas, assim como seus sistemas de notas e classificação, sintetizam as relações de poder e de saber, na medida em que buscam definir o que é “verdade”, através da pontuação de erros e acertos, que possibilita a classificação, a qualificação e a punição. Nesse processo, o exame reafirma a característica fundamental do poder disciplinar, na medida em que, deixa de emitir sinais de seu poderio, ao mesmo tempo em que obriga aqueles que a ele está submetido, nesse caso os alunos, a uma visibilidade obrigatória.
[14] Ver DELEUZE, Gilles, Post-Scriptum sobre as sociedades de controle, In: Conversações, Rio de Janeiro: 34, 1992.
[15] Sobre este conceito de “subjetividade artificial” ver Michael Hardt em A sociedade mundial do controle; in ALLIEZ, Eric (Org.). Gilles Deleuze: uma vida filosófica, Rio de Janeiro: 34, 2000.
[16] Cf. Hardt, Michael. A sociedade mundial do Controle. In: Alliez, Eric         (Org.) Gilles Deleuze: uma vida filosófica. Rio de Janeiro: Editora 34,2002.
[17] Idem, p.369.
[18] A estrutura compartimentalizada do conhecimento pode ser representada pela metáfora arbórea, a imagem de uma grande árvore cujas extensas raízes devem estar presas em solo firme, com tronco sólido que se ramifica em galhos e mais galhos. É o modelo cartesiano, moderno, colocando em evidência princípios de uma natureza única, fronteiras, regiões de domínio. A organização curricular do ensino segue este padrão, colocando as disciplinas como realidades estanques. (http://www.apagina.pt disponível em 12/04/2005). Citamos também que o modelo da árvore necessita de uma forte unidade principal, ou seja “o tronco”, que simbolicamente se refere a um segmento específico do saber, para suportar o desdobramento dos ramos específicos que, em geral, não se relacionam entre si e se ligam unicamente com a idéia central do conhecimento. O estudo pertencente a cada “árvore” (área) do conhecimento desconsidera qualquer interligação com outras “árvores” do conhecimento humano e, ao contrário, o pensamento estruturado busca especificar e definir as especificidades dos saberes, delimitando os campos de cada ciência, isolando-a e valorizando sua pseudo “autonomia arbórea”. O texto da Prof. Vani Moreira Kenski Novas tecnologias: o redimensionamento do espaço e do tempo e os impactos no trabalho docente, foi de grande valia para a articulação do raciocínio desenvolvido aqui.
[19] Cf. Deleuze, Gilles, Guacari, Félix. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia,vol.1, Rio de Janeiro: Editora 34, 1995.
[20] Idem.
[21] Idem.
[22] Idem, p15.
[23] Idem, p18.
[24] Já é usual, mas ainda assim produtivo, utilizar-se da metáfora da Biblioteca de Babel de Jorge Luiz Borges, Ficções (Globo, São Paulo, 1997) na qual a rede informacional hoje se equivaleria à grande biblioteca.
[25] Cf. Deleuze, G., Gilles, Post-Scriptum sobre as sociedades de controle, In Conversações, Rio de Janeiro: Editora 34, 1992.
[26] Vale destacar,também, análises que articulam à existência do exame à “ compulsão à repetição” que envolve “ o ser avaliado”. Em síntese, a “ formação permanente” apenas responderia à demanda de “ voltar a ser aluno.
[27] Cf. Deleuze, G., Gilles, op. cit. 1992.
[28] Idem.
[29] Idem.
[30] A questão da formação continuada, embora não se constitua como objeto de nossa análise vale ser destacada posto que indica, também um lugar sem-fim de exigências formativas. Possui, entretanto, várias outras facetas. Aqui nos interessa destacar que a justificativa da necessidade da existência de cursos de formação continuada se efetua por meio de um discurso contraditoriamente, a princípio, desqualificante. Ora se desqualifica à formação inicial ou ora se desqualifica o próprio professor, esvaziando de sentido sua experiência e seu saber.
[31] A categoria Bildung dos frankfurteanos indicaria um contexto positivo da formação permanente posto que não se articula a nenhuma teleologia .
[32] Cf. Deleuze, G., Gilles, Post-Scriptum sobre as sociedades de controle, In Conversações, Rio de Janeiro: Editora 34, 1992, p.221.
[33] Cabe aqui considerações adicionais acerca do conceito de moratória ilimitada e as interfaces que o mesmo efetua. Por exemplo, em análises tecidas por Ehrenberg, A. no livro L’ individu Incertain.Paris: Odile Jacob,1998, a contemporaneidade estaria vivendo uma condição de substituição do superego, entendido como limitador das ações individuais para uma condição de ideal de ego que se caracterizaria pela expectativa de uma identidade idealizada, que nunca se realizaria. Esse mesmo sentimento, caracterizado aqui como currículo sem-fim, indica, também essa nova condição de formação idealizada que nunca se realiza por completo, gerando, assim, a moratória ilimitada.
[34] A professora Guiomar Namo de Mello no site www.novaescola.abril.com.br dá para competência e habilidades as seguintes definições: Competência é a capacidade de mobilizar conhecimentos, valores e decisões para agir de modo pertinente numa determinada situação. Portanto, para constatá-la, há que considerar também os conhecimentos e valores que estão na pessoa e nem sempre podem ser observados. Competências e habilidades pertencem à mesma família. A diferença entre elas é determinada pelo contexto. Uma habilidade, num determinado contexto, pode ser uma competência, por envolver outras sub-habilidades mais específicas. Por exemplo: a competência de resolução de problemas envolve diferentes habilidades — entre elas a de buscar e processar informação. Mas a habilidade de processar informações, em si, envolve habilidades mais específicas, como leitura de gráficos, cálculos etc. Logo, dependendo do contexto em que está sendo considerada, a competência pode ser uma habilidade. Ou vice-versa. Sabemos, entretanto, que a noção já foi amplamente criticada quando vem associada ao novo paradigma produtivo das sociedades pós-industriais.
[35] Nome do curso oferecido na Universidade do Hambuger.
[36] Aqui vale salientar que esses “espaços educacionais/formativos” se autodenominam e /ou são identificados como “Universidades” ou “Escolas”, revelando assim a fragilidade ou ambigüidade dessas instituições na atualidade.
[37] Retirado do site http://www.mcdonalds.com.br (disponível em 06/04/2005).
[38] Cf. Deleuze, Gilles, Post-Scriptum sobre as sociedades de controle, In Conversações, Rio de Janeiro: Editora 34, 1992.
[39] Idem, p.221.
[40] Idem, p 224.
Publicado em: Espaco, INES/MEC