O
dia amanhecera cedo. E claro. Mas havia preguiça ou cansaço. No ar, da vida que
respirava aos pedaços. O curso constante de ideias e indagações se assemelhava
ao cursor. Pulsava ininterrupto e parecia fragmentar todos os afazeres simples,
domésticos, necessários à sobrevivência sempre muito no limite. A isso a
medicina chama de dispersão. Não é. Não para todos. Para alguns, o que reúne e
viabiliza as ideias, a compreensão dos processos, é exatamente esse caos,
interior, caos esse que orienta, inclusive, a necessária separação entre a vida
e os problemas de fora, como dissera. Foi quando parei para pensar em algumas
estruturas psíquicas, nem sei se assim posso chamá-las, leiga e
despretensiosamente. Aquelas que operam no caos paradoxal sem cessar e,
produzindo efeitos, em parte poderosos, posto que potentes, e em outra parte
misturados ainda, emaranhados com a própria unidade que produz o sentido. E
aqui tomamos parte como algo contido neste todo que constitui a existência,
humana, dotada de linguagem e entendimento – razão, diriam os gregos. Afinal,
temos ou não? Quando, por quê? Muitas perguntas – diria aquele que planeja sem
cessar, mas que não concebe a pergunta como resposta seja porque a pergunta se
faz indesejada, expõe a resposta e põe a alma à deriva, seja porque a pergunta
não cabe em si, é maior, do tamanho do medo da vida, da morte ou da entrega
dita como certa, nossas únicas certezas. A necessidade do amor e a chegada da
morte.
O
paradoxo é considerado na filosofia como o limite de um sistema. Por isso a
noção de corte epistemológico, ou de salto, rupturas e mudanças de rumo,
mudanças históricas e/ou individuais que se tornam mais compreensíveis apenas
quando do distanciamento das mesmas. É, de fato, por vezes é preciso distanciar
para que o paradoxo se exponha e o limite se dê, alargue e condense (nem sei se
em novas sínteses possíveis, não sei se abandonei a noção de sínteses). Li
outro dia: “ Livros, mais do que longos, devem ser largos.” Certíssimo. Deve
ser para caber. A extensão. Sair da lógica da profundidade, da hermenêutica do
sujeito que conhece a si e o mundo por meio de uma indumentária interrogativa
do próprio eu. Ah... o método! Talvez aqui a noção de síntese não seja mais
necessária, como finalidade. Tampouco a ideia de interior. A extensão traz a
possibilidade da superfície, antes vista como... superficial, volúvel, volátil
e esta, como negativa! A superfície como toque, como o real imanente, vem à
tona com essa possibilidade, como nesta crônica, curta e extensa daquilo que
não é dito porque a pergunta cala para que a resposta se instale no não dito.
Ali está o limite, o paradoxo. O sim e o não se condensam em uma só unidade e
gera o medo do des-conhecido que não precisa ser dito. É, apenas é. E a certeza
do cuidado. Certeza incerta, por que afinal? Quem nos abandonou abertos para
incerteza, no desamparo?
Quando
se instalam as dúvidas, como se instituem as certezas, de si e do outro?
# moniquefranco, agosto
de 2013
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