quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

O dia amanhecera cedo ou a anti-storytelling



O dia amanhecera cedo 
ou a anti-storytelling


O dia amanhecera cedo. E claro. Mas havia preguiça ou cansaço. No ar, da vida que respirava aos pedaços. O curso constante de ideias e indagações se assemelhava ao cursor. Pulsava ininterrupto e parecia fragmentar todos os afazeres simples, domésticos, necessários à sobrevivência sempre muito no limite. A isso a medicina chama de dispersão. Não é. Não para todos. Para alguns, o que reúne e viabiliza as ideias, a compreensão dos processos, é exatamente esse caos, interior, caos esse que orienta, inclusive, a necessária separação entre a vida e os problemas de fora, como dissera. Foi quando parei para pensar em algumas estruturas psíquicas, nem sei se assim posso chamá-las, leiga e despretensiosamente. Aquelas que operam no caos paradoxal sem cessar e, produzindo efeitos, em parte poderosos, posto que potentes, e em outra parte misturados ainda, emaranhados com a própria unidade que produz o sentido. E aqui tomamos parte como algo contido neste todo que constitui a existência, humana, dotada de linguagem e entendimento – razão, diriam os gregos. Afinal, temos ou não? Quando, por quê? Muitas perguntas – diria aquele que planeja sem cessar, mas que não concebe a pergunta como resposta seja porque a pergunta se faz indesejada, expõe a resposta e põe a alma à deriva, seja porque a pergunta não cabe em si, é maior, do tamanho do medo da vida, da morte ou da entrega dita como certa, nossas únicas certezas. A necessidade do amor e a chegada da morte.

O paradoxo é considerado na filosofia como o limite de um sistema. Por isso a noção de corte epistemológico, ou de salto, rupturas e mudanças de rumo, mudanças históricas e/ou individuais que se tornam mais compreensíveis apenas quando do distanciamento das mesmas. É, de fato, por vezes é preciso distanciar para que o paradoxo se exponha e o limite se dê, alargue e condense (nem sei se em novas sínteses possíveis, não sei se abandonei a noção de sínteses). Li outro dia: “ Livros, mais do que longos, devem ser largos.” Certíssimo. Deve ser para caber. A extensão. Sair da lógica da profundidade, da hermenêutica do sujeito que conhece a si e o mundo por meio de uma indumentária interrogativa do próprio eu. Ah... o método! Talvez aqui a noção de síntese não seja mais necessária, como finalidade. Tampouco a ideia de interior. A extensão traz a possibilidade da superfície, antes vista como... superficial, volúvel, volátil e esta, como negativa! A superfície como toque, como o real imanente, vem à tona com essa possibilidade, como nesta crônica, curta e extensa daquilo que não é dito porque a pergunta cala para que a resposta se instale no não dito. Ali está o limite, o paradoxo. O sim e o não se condensam em uma só unidade e gera o medo do des-conhecido que não precisa ser dito. É, apenas é. E a certeza do cuidado. Certeza incerta, por que afinal? Quem nos abandonou abertos para incerteza, no desamparo?

Quando se instalam as dúvidas, como se instituem as certezas, de si e do outro?

# moniquefranco, agosto de 2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário