domingo, 28 de junho de 2015

Par





não danço nada
vai ter que me ensinar
não enxergo nada
vai ter que olhar
por mim
fitar
fitar muito bem
e dizer
venha
vou te ensinar
e eu vou
aprender
do meu jeito
de fazer

não ouço nada
melhor deixar mesmo
o som do piano
ou do passarinho
que como nós
quer ninho

não falo nada
o não é saída
inteira da entrega
ao outro
sabendo de si
perdendo e ganhando
existir com o outro e sorrir
na afirmação cotidiana da vida
que diz sim
o real nos antecede
e há um porvir
e o agora é promessa de esperança.

#moniquefranco

quinta-feira, 25 de junho de 2015

O vento e as máscaras



que alívio
o vento
trouxe
um aviso
as máscaras
cedo ou tarde
caem
e o rosto
velho
não expõe rugas
mas cicatrizes
que  o homem
a si mesmo fez

cicatrizes são como ruas
nuas
e o caminho não se sabe bem
por isso inventaram o espelho
e assustaram Narciso
que até hoje procura as chaves
que ninguém tem.


#moniquefranco

Dasein (2)




quando eu
comecei a escrever
poesia
um dia
me perguntaram
por quê

a resposta veio rápida
ela é o próprio viver.

#moniquefranco

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Deuses

#moniquefranco - fotografia. Museu de Arte Moderna. MAM- RJ


me narro politeísta
habitam em mim
muitos Deuses
de todos
sou devota
e converso
conto conto
conto anedota
depende do que preciso
como alimento

me perco politeísta
surgem para mim
muitos traços
de todos
sou parte ou reparto
e me ausento
me aproximo
do retrato

me acho politeísta
cuidam de mim
todas as artes
todas as estrelas do céu
cada espuma de onda
cuidam de mim
minhas flores que florem na janela
os animais que alimento
as borboletas a que presto atenção
e os meninos e as meninas que oriento

me juro politeísta
replicam em mim
universos
cheios
de energia e inércia
viajo aos polos
todos
acima
abaixo
e para os lados
extensão
para dentro
e tudo o mais
que cada órgão precisar
para dizer sim e não

me sei politeísta
passam por mim
muitos entes, seres, mitos
e sigo filtrando
repudiando o incorreto
e é incorreto aquilo que avilta
a pobreza avilta
o descaso
a mentira
a sempre falsa nobreza
enfim avilta
tudo o que não
a si
puder
pedir perdão

me narro politeísta
e paro afazeres urgentes
para escrever
um poema
mas ele é o Deus
que não morreu
dentro de nós.


#moniquefranco