domingo, 31 de maio de 2015

Despedida ou um poema para Rose



despedida
de menina
despida
dolorida
coisas vão e voltam
seres nunca mais
finitude
não rima com inquietude
queria eu saber como se faz
para ficar para além da história
virar mais que memória
muito além do imortal

despedida
desmedida
ida
despe
a vida

queria eu saber como se faz
não deixar voar com o vento
o que pode ser puro alimento
muito mais que glória
escolha incerta
longe do ideal
por isso mesmo
um casal

despedida
limpa a ferida
vida
ida
abre a saída
abriga a menina
deixa vir a mulher
que a si prefere
quem com ela escolhe
vir
que não mais espera
partir
mesmo sem saber por onde ir
o que vale
é não mais fugir
assim com ela aprendi.

#moniquefranco, 3 de julho de 2014








sábado, 30 de maio de 2015

Duplo olhar


Fotografia: #moniquefranco - Deusas do beiral

são
três
Marias
poderiam ser
três
Anas
Joanas
suas
cores
dores
seus
odores
sabores
amargos ou doces

vieram deitar
ao lado da Deusa
beiral da porta
a proteger
cada um
que por aqui entrar

casa é templo
cuidado dos pactos
e o poema fareja
os espiões do ocultar
por detrás de bondades
podem existir as maldades
que só o caos faz revelar

são
três
Roses
poderiam ser
três
Jardineiras
Trepadeiras
suas
crias
alegrias
seus
feitos
refeitos
perfeitos ou imperfeitos

silêncio inaudito
mulheres
matriarcas
guerreiras
não há mordaças
que façam calar

vieram deitar
ao lado da Deusa
beiral da porta
a escolher
desse trio
o duplo olhar.

#moniquefranco, entre Marias e Roses a proteger e escolher o amar. 

Morte vida de um personagem fantasma


Fotografia: #moniquefranco, Praia do Leblon, Rio de Janeiro.
enquanto dormia
o sonho dizia
anda com cuidado guria

depois acordava
o corpo cedia
ao sonho
a realidade doía

difícil ver
quem
não vê
não ouve
não suga
os lábios
difícil crer
quem
não ri
esconde
a si de si
carcaça de homem
vazio cheio de sombras
virava fantasma
em plena luz do dia

enquanto dormia
o sonho dizia
anda perto de si guria
é o que a vida tem de valia

depois que acordei
achei
o que não havia perdido
mas eu já sabia

personagem
ou vira homem
velho homem novo
ou vai vagar por ai
alimentando migalhas
encontros fortuitos
mensagens secretas
mentiras eternas
que traz até aqui
enterrando o melhor de si

depois que ele acordou
achou
o que havia de fato perdido
mas ele sabia
faltara coragem
de existir
subiu a ladeira
e teve medo de cair
ficou por lá
sem atentar
até hoje
onde está.

#moniquefranco, muito, muito perto de si


quarta-feira, 27 de maio de 2015

Projeteis



entre traços
tracejo
palavras que traem
trajeto
escritas que gritam
dejeto
frases que imprimem
objeto
por entre as trilhas
do afeto
feto
abortado ou nascido
ido
volta como vampiro
purga
poema
impuro
cheio de emoção

entre traços
tracejo
mudo
endereço
mudo
silêncio
muda
canção
nascida
ida
volta como pedida
encurta
escuta
poema
sonoro
cheio de pulsão

entre traços
tracejo
palavras que trazem
sentido
escritas que pintam
segredo
frases que imprimem
objeto
por entre as trilhas
do afeto
feto
abortado ou nascido
ido
volta como alimento
purga
poema
purga
poema puro
cheio de emoção

e escrevo como dom
é seu meu coração
e o poema celebra
provável ou incerta
festa
dessa união
juntará nossas ossadas
quando o fim de velho se cansar
de ouvir os outros a falar
desse nosso ousado amar.

#moniquefranco