domingo, 12 de março de 2017

Um poema ou dois ou ... anos, meses, dias, horas

Búzios, Porto da Barra, 2016
vou escrever um poema ou dois
para narrar o amor
em nossos corações
aproveitar o tempo quente
dormir bem rente
o corpo nu
a lua cheia
no céu estrelado
desse fim de verão

os mais velhos dirão
- que alegria
celebrar o amor assim
- tem receita ou é conquista?
quero esse tempo bom para mim

os mais novos
acharão bizarro
- quase avós
difundindo o gozo
num imaginário educado calado

os animais compreenderão
o cão talvez uive
os gatos sentem o tremer no chão
não importa o medo que dê
amor tem cheiro de vida em comunhão

vou escrever um poema ou dois
ler um conto de Clarice
e ouvir o solo
da guitarra, do cavaco ou do violão

já se passaram anos
meses
dias
horas
e ainda que em difícil harmonia
tal como é mesmo qualquer cantoria
estamos aqui
dando as mãos.

#moniquefranco, 12 de março, esperando almoço de domingo, com a broa de fubá no forno, num país que não quer que a gente seja feliz, mas a gente insiste!





quarta-feira, 8 de março de 2017

Cozinha





passei o dia na cozinha
fiz bolo
fiz húmus
fiz pão
nasci em cada grão.


#moniquefranco, 8 de março de 2017.

Balas de afeto ou por uma guerra feminina


tão nova eu estava
e a poesia em mim já gritava
acho que sempre gostei de falar aos pedaços
depois
unir cada traço
como se fosse ordem
alguma coisa que faço

tão logo agora chega a velhice
como ninguém nunca me disse?
-       que era assim
esse descompasso
corpo e mente já não se entendem
e fico eu aqui marcando passo
ou seria ?
-       pagando o pato

a idade traz consigo a lente
que vê
a bagunça da minha mente
e escritos
sem lenço e sem documento
num Brasil que mancha mais uma vez sua história
e faz seu povo iludido e descontente

mas se a poesia também é guerra
mãos à obra
sejamos armas
balas nem sempre doces
cujo alvo é o afeto.



#moniquefranco, 8 de março de 2017, Dia Internacional da Mulher, lançando balas de afeto.

#poesiaparaguerra

domingo, 5 de março de 2017

Pátria amada ou em Clarice “ acautelais-vos de uma mulher que sonha”

Fotografia: Marcus Veras de Farias, fevereiro de 2017, Rio de Janeiro 
acordei já faz tempo
exatamente porque não dormi
o sonho em vigília transborda
a realidade que não vivi

se não vivi não existiu
mas marca em mim e em ti
adultérios
traições de destino
pátria amada
amaldiçoada por ladrões
cafetões
fortuitos
escancaradamente sem faces
roubam segredos
daqueles que alimentam a esperança
pátria livre
deixá-la amargura o doce
ficar induz à adesão
sem tesão não há solução
casamento estéril
pátria mãe e nossos corações

acordei já faz tempo
exatamente porque não dormi
o sonho em vigília transborda
a luta de que não desisti
“acautelais-vos de uma mulher que sonha.”


#moniquefranco, 5 de fevereiro, num pós carnaval sem noção que golpeia sem dó nosso coração brasileiro


Vinter gæk ou... primavera que há em mim


fotografia: #moniquefranco Vinter gæk
primavera que há em mim
flor que brota em instantes
anuncia
simultaneamente 
início e fim
borda poemas
frases compostas por eventos
memórias
trazidas ao vento como pólen
germinam e eternizam cada  
momento 

outono, inverno, verão
trarão 
no entanto
de volta a rotação
movimento na verdade incerto
necessário
primeiro
exercício análogo à solidão
posto que aberto à imensidão
e que exige saber abrir mão
da posse que limita e define
definha a emoção
de qualquer relação
não como na asa de frango que sobra da porção
mas como quem rompe cada vão
e faz ampliar a dimensão 
do encontro delimitado em minutos
sem se preocupar 
com o significado do ato
ou com sua compreensão
aceitação
primavera que há em mim 
hoje sorri em suspensão
para
respira
e fala como Espinosa falou
do afeto antigo
amigo
que une o disperso
ensina o diverso
embalado em canções
imagens 
emoções
cria a potência
e se vira
revira
permite 
a liberdade 
de ser e de estar
e sequer precisar adivinhar
ou do outro esperar
pois diz respeito ao efeito 
simplesmente 
do próprio se dar
cada um
num ser
noutro ser
poder estar
sem ocupar
nenhum lugar.

#moniquefranco, Dinamarca, perto do início da primavera no fim do verão