sábado, 6 de junho de 2015

Sagrados instantes ou sobre o abraço





e havia aqueles simplesmente do bem
que me escreviam e diziam
eu só quero ir lá
abraçar
amo minha casa
e não quero vê-la
de pernas
pro ar


como se a política
fosse feita de práticas
de quem quer ver o comum
parece que a pólis é o centro
de todo rei degolado
na memória de quem
teme
sempre
ser derrotado
ou seria abandonado
ego ferido
muito mais
que vidros partidos

tem um grito apertado
tem muita palavra não dita
maldita
pra todo o lado

se eu acreditasse
em coelhinho da páscoa
iria
dar as mãos
vestir branco
mas me deram a baleia de Melville
muito jovem para ler
e me fiz assim
fraternidade demais
melhor não querer
pode ser só medo
de ver disfarces
em vez de suas faces

mas como eu acredito
em Papai Noel
ele veio e me disse no escuro
está tudo mofado lá no céu e parece que na terra também
você não tem visto a chuvarada de estrelas cadentes
daqui de baixo pode parecer belo
mas elas estão é descontentes
e se laçam ao espaço
como bombas
camicases
para não mofar é preciso
deixar
entrar
ar
agregado ao velho olhar
a velha casa está
e diz que quer discutir relação
sei não
nem papai Noel acredita nisso
deve ser porque ouvi dizer
que todo mundo nessa história
passou mal
o feijão
fora esquecido
fora da geladeira dos vencidos

o mundo não tem sido dos justos
nem por isso todo mundo é injusto
então em vez de um todo
lodo leitoso
vamos abrir transparências
fendas
brechas
dos camponeses em nós
índios de outrora
vozes ecoando na memória
não sei bem o que diz a ciência
mas a arte faz do drama poesia
e por instantes
sagrados e edificantes instantes
satisfaz.

#moniquefranco, 3 de junho de 2015, vendo uma chuva de estrelas cadentes e com a UERJ no coração





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