domingo, 12 de abril de 2015

Anjos azuis, sem chaves ou para o Miguel




Obra: Ex-votos, Isabel Hennig,1989/90. Fotografia: #moniquefranco
para mim anjos são azuis
podem ter
cabelos
amarelos ou negros
lisos ou cacheados
olhos
verdes ou dourados

para mim anjos são azuis
parte de estrelas
de um céu que nos acompanha
acima
mas dentro de nós

sim
somos
acompanhados
acompanhantes
da imensidão do céu
da imensidão de estrelas

sabemos
o quão escuro
um colorido pode ser
uma  imensidão pode ser
por isso lutar por justiça
por isso sonhar com partilha
por isso
a necessária inteireza
quando responsáveis
quando honestos
quando livres
sabemos
ser

para mim os anjos são azuis
porque ganho asas
cada vez que vem um poema
e sei
que o voo é meu
bati as primeiras asas
balancei
de início
não voei
voltei
à repetição como se inata
fosse a vida
tive fraturas
impostas
expostas
tive colos
ganhei abraços e beijos
reminiscências edificantes

para mim os anjos são azuis
porque não tenho medo
da multiplicidade dos signos
da anterioridade das coisas
que permanecem como se caladas
quando sim gritam em revoada
há os que não ouvem
ou não compreendem as palavras
significantes contínuos
no fluxo do tempo
deste real que nos antecede
e não depende de nós

para mim os anjos são azuis
porque quando fui mãe
lutei pela vida e a vida se deu
porque eu abri portas
sem precisar de chaves
porque tive a coragem
de ver
que a chave era eu.

#moniquefranco, com os ex-votos.










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