segunda-feira, 13 de julho de 2015

Os limpos ou para Líria Porto




os limpos não cagam
os limpos se preocupam
apenas
em limpar o próprio escarro
que escorre pelas narinas
sorriso entre os dentes
mau hálito
espasmo nervoso
não param de lavar
as mãos
dá pena de ver
e pena
não se pode
comprar ou vender
melhor seguir Zaratustra
no caos reside a liberdade
e essa não se ganha
com idades
é sim um descaso
de nascença
por toda e qualquer
moral

os limpos
cagam regras
compram o papel higiênico
em que escrevemos versos
que bebemos nos vasos sujos
espalhados por aí
nas mentes sem lei
os limpos são fraternos
por demais
sempre desconfiei de nobres demasias
é tão obvio
elas escondem condenadas fantasias
os limpos
se imaginam eternos
e talvez pra alguns serão
a eternidade é como a esfera
a distância
de cada ponto ao centro
é a mesma
mas os caminhos
os caminhos são diferentes
pois o centro
escapa  aos olhos distraídos
quanto estes encontram o luar
por exemplo

os limpos
não cagam
não perdem rascunhos
tudo vem pronto
certinho
rimado
direitinho
melhor seguir os anjos não santos
não normais
que dão as mãos aos demônios
todos esses de nós
meros mortais
no limbo
do prazer que satisfaz

os limpos não engolem
cospem junto o desejo
os limpos se cagam de medo
de tomar no cú
embora adorem
as putas das estradas
mas casam com
as santinhas do interior
traí-las parece ter mais sabor
os limpos almejam
sobretudo
o lugar da vítima
pega despercebida
foi bom pra você?

#moniquefranco, 13 de julho de 2015, limpinha indo dormir pra sujar a noite de amor.




Nenhum comentário:

Postar um comentário